
Vai ter lugar em Coimbra, nos dias 24 e 25 de Março, no Convento de S. Francisco, o I Congresso Internacional de Radiologia, organizado por um grupo de licenciados em radiologia elementos do quadro do Serviço de Imagem Médica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). Carla Solano (CS), da Comissão Científica, vai falar-nos um pouco sobre a importância deste evento.
Na apresentação do evento refere-se que "somos parte integrante de uma grande instituição universitária e hospitalar, conscientes de que somos o fim da linha, na área de diagnóstico e intervenção radiológica, na região Centro. Conscientes de que fazemos parte integrante da solução, todavia também conscientes de que o futuro se faz com todos."
GCIRP: Quer falar-nos sobre o que representa, isto é, qual a dimensão e importância deste evento, tendo como pressuposto o excerto do texto citado que apresenta o Congresso?
CS: Virginia Woolf disse e tão bem, que se vê a alma através das palavras. Por isso vamos tentar usá-las com precisão, não desperdiçando a oportunidade que nos oferecem.
Um dos 4 pilares estratégicos do Congresso Internacional de Radiologia de Coimbra (CIRC) é unir, através da comissão científica, elementos de todos os serviços de radiologia públicos da cidade. O Serviço de Imagem Médica (SIM) do CHUC, é o maior de todos, não só de Coimbra, como de toda a região Centro.
É com esta consciência que trabalhamos todos os dias, e deste ponto de vista, é para nós legítimo afirmarmos que “...somos o fim de linha, na área de diagnóstico e intervenção radiológica, na região Centro”.
É para nós claro, e não o dizemos como um cliché, mas por aquilo que vivenciamos no nosso dia-a-dia, que somos, variadas vezes, a única solução de muitas situações.
Respondendo à segunda parte da sua questão, assumimos que o nosso foco é não esquecermos que somos profissionais indispensáveis no Serviço Nacional de Saúde (SNS), que o nosso know how é importante no SNS, porém, conscientes que somos mais uma peça na engrenagem, como são todas as profissões. E neste contexto, dizemos que o futuro se faz com todos.
É referido também que são vários os desafios que se colocam atualmente à área da radiologia em Portugal e também aos seus profissionais.
GCIRP: Pode falar-nos sobre esses desafios? Desde logo o grande desafio de robotização e da Inteligência Artificial (IA) e, como desde logo isto implica com a humanização na saúde?
CS: Aqui estão dois temas que mereciam só por si outros eventos. A robotização e a humanização nos cuidados de saúde.
A evolução sempre moldou as nossas sociedades, desde a descoberta do fogo que assim é. Relativamente à problemática da robotização acreditamos que em breve teremos algumas teses a fazer a comparação entre a robotização nos nossos dias e a era industrial que teve o seu início no século XVIII. Com as diferenças temporais (sabemos que a velocidade das inovações tecnológicas de hoje nada têm a ver com o que se passou no século XVIII), mas acreditamos que a robotização trará necessidades de qualificação especificas e com maior expertise, mas é uma evolução que era expectável e para a qual nos estamos a preparar.
Sobre humanização em saúde em locais de trabalho onde a frieza das máquinas torna a comunicação tantas vezes deficitária, onde os computadores se tornam a nossa maior preocupação, esta é uma problemática que nos preocupa.
Acreditamos que a aposta deve ser no acolhimento do doente e que a enfatização do lado humano pelo profissional tem de estar sempre presente. Não temos soluções milagrosas.
Não nos compete substituir máquinas, compete-nos humanizá-las através da comunicação de cada um de nós, mas também contribuirmos com ideias para todo o ambiente hospitalar, que toda a burocracia hospitalar se torne menos repetitiva e mais amiga. Acreditamos que a humanização é um trabalho tanto individual como coletivo, tanto de cada serviço como de todo o “edifício hospitalar”, seja através de sistemas burocráticos, seja de sinalética, seja de cores, seja dos rostos, etc.
A Humanização é transversal, e nós que trabalhamos com máquinas temos obrigatoriamente de estar conscientes disso.
A IA pode, no nosso entender, ajudar muito neste processo de humanização. Já hoje quando entramos num elevador e chegamos ao nosso destino uma voz nos diz o andar em que estamos; podem dar-nos os bons dias; dizer a temperatura; etc. Outro exemplo, os chats que hoje através da IA fornecem uma série de respostas padrão e quando não nos resolvem os problemas, nos direcionam para quem os possa resolver.
A IA é um dos elementos que estará presente futuramente na interação dos equipamentos e os pacientes, e na nossa perspetiva, ajudar-nos-á no contacto com o outro. Porém, obriga-nos a fazermos apostas pessoais na inteligência emocional e relacional.
Neste Congresso vai ser abordada a temática "A Radiologia nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) -“Um olhar de dentro”.